domingo, 24 de agosto de 2008

5ª Coluna

Olha mais uma coluna ai gente!!!! Essa foi a quinta coluna que escrevi. Ela foi escrita logo após o final da minissérie "Queridos Amigos". Espero que gostem...gostei muito desse trabalho.


Beijos


Saudades!!!!!



Há quase um mês atrás chegou ao fim um dos melhores trabalhos que a Rede Globo já produziu na teledramaturgia: Queridos Amigos. Só não falo o melhor porque sou um apaixonado pelas minisséries Anos Rebeldes e Os Maias, essa também da maravilhosa Mª Adelaide Amaral. Trabalho inteligente para pessoas inteligentes.
Um fato curioso que vivi com relação à minissérie confirmou que preconceito ao novo pode ter impedido o grande público de acompanhá-la, mas quem conseguiu quebrá-lo se surpreendeu: Estava num hotel em Rondônia, na época em que estive trabalhando no estado. Um dia voltando da rua de noite, a minissérie já havia começado e pedi ao recepcionista que colocasse a TV da recepção na Globo. Ele muito a contragosto colocou. Foi o capítulo que o Benny foi espancado pelo Nenê. Ao fim do capítulo, que foi curto e tarde, pois era uma quarta-feira após o futebol (fato que também prejudicou o rendimento de “Queridos Amigos”), o recepcionista estava com os olhos cheios d'água e com voz sufocada me disse: - “Nossa, nunca tinha visto essa minissérie. Não sabia que era tão bonita!" Então, o que mais dizer?
Como ator, fiquei muito feliz em ver um elenco composto principalmente por atores de teatro, que trouxeram o peso necessário aos temas abordados no trabalho. Tive a oportunidade de ver quase todos no palco o que me deu garantias certas de que seria um lindo trabalho, e foi. É o trabalho que sonho todas as noites em fazer. Não é fácil a tarefa de retratar os anos 80, anos de decepções, estagnação, dúvidas e porque não de começos. Primeiro pela questão comportamental amplamente discutida: divórcios, traições, diversidade sexual, liberdade sexual, liberdade artística. De certa maneira essas questões foram expostas no final dos anos 60, mas saíram debaixo do tapete nos anos 80, foram pra dentro das casas, saíram dos guetos. Segundo pela política. Tanto se acreditou e se lutou nos anos 60 e 70, para nos anos 80 ver que ficou tudo na mesma situação. Não tínhamos mais censura, mas sobre o que falar? Quem queria mudar o mundo foi mudado por ele. E por último, economia. No Brasil, vários planos “furados” e pelo mundo a confirmação da supremacia estadunidense sobre todo o ocidente e chegando ao oriente. A minissérie ainda foi super cuidadosa na direção de arte, pois não é fácil recriar uma época que está tão fresca na cabeça de todo mundo, dos que nasceram nela e nos que cresceram. Ainda não está no inconsciente lúdico como a primeira metade do século ou os séculos XIX e XVIII. Os eletrodomésticos, a moda, os carros, etc. Parecia que estava vendo a reprise de um programa de 1989. E o mais louco, só há 19 anos atrás, não tinha celular nem internet.
“Queridos Amigos” foi uma produção ousada. Cenas extensas, discussões polêmicas (tortura, suicídio, homossexualidade, infidelidade) e uma narrativa que tentou fugir da visão maniqueísta. Não há mocinhos e vilões na vida real, todos estão sujeitos a atos extremos, de amizade ou de egoísmo. Tanto é que o personagem mais popular da minissérie, segundo pesquisa encomendada pela Rede Globo foi o Benny (Guilherme Weber). Um homem depressivo, cínico, freqüentador da noite underground paulista, viciado em drogas e gigolô, mas que teve seu sofrimento e angustia completamente justificáveis pela sua história. Inclusive, acredito que em poucas vezes na teledramaturgia nacional os homossexuais foram tratados de forma tão limpa de preconceitos. Afinal, retrata-los sempre como os bonzinhos, honestos e bonitos para facilitar a aceitação do público é uma forma de preconceito. Os estreantes Odilon Esteves (componente do grupo mineiro “Luna Lunera”) e Ricardo Monastero intérpretes de Cíntia e Brenda, merecem parabéns pela construção de travestis sem cair no estereótipo e com muita suavidade.
O única falha mais visível na produção foi o excesso de figuras de linguagens nos discursos de alguns personagens, principalmente no protagonista Léo (Dan Stulbach). Falas simples em ambientes comuns foram, em algum momento, sufocadas com metáforas, alegorias e metonímias distanciando o discurso. Situação semelhante é encontrada nas falas de Cazuza no filme “Cazuza – O Tempo não para”. Esse efeito é usado para criar uma aura de heroísmo a quem as fala.
Deixando esses deslizes de lado, palmas para a direção madura de Denise Saraceni (responsável por outras excelentes obras globais como “Memorial de Maria Moura”, “Engraçadinha”, “A Muralha” e “Belíssima”). Ela confirmou em uma entrevista que teve a influência do diretor sueco Ingmar Bergman. E mesmo que não confessasse não tinha como não reparar um toque de Cenas de um Casamento, Gritos e Sussurros ou Sonata de Outono no trabalho. Boa influência com competência resultou numa excelente fotografia, ângulos criativos e uma diretora que tirou o melhor dos atores. Os doze atores que viveram os amigos em questão passaram um mês em um loft fazendo laboratório (expressão usada na área artística para nomear o processo de construção do personagem) onde cozinhavam, conversavam, viam filmes, ouviam música a fim de criar entrosamento entre os atores.
Palmas também para o elenco: Dan Stulbach, Matheus Nachtergaele, Bruno Garcia, Luis Carlos Vasconcelos, Mª Luiza Mendonça, Drica Moraes, Tarcísio Filho. Palmas especiais para Guilherme Weber, Débora Bloch e Malu Galli (comentada semana passada na coluna por seu trabalho na peça Ensaio.Hamlet). Que bom ver a Denise Fraga de volta ao drama. Fernanda Montenegro, Aracy Balabanian, Nathália Thimberg e Juca de Oliveira dispensam comentários. Estou ansioso pelo próximo trabalho de Maria Adelaide Amaral. É...as noites não vão ser mais as mesmas. Ficaram vazias!

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