quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Pois é gente, enquanto vocês votam nos Melhores do Ano vou continuar a postar antigas colunas por aqui.
Aí vai uma do dia 25/05/2008. Boa leitura!!!!

1968 que ano!

Uma palavra definia o Brasil e o mundo em 1968: psicodelia. Esse termo passou a ter muitos significados naqueles anos turbulentos que culminaram em 1968. Possuídos por um espírito contestador nunca visto, os jovens colocaram os valores tradicionais em questão, demolindo normas e padrões que pareciam inquestionáveis. A contestação atingia o sistema educacional, os valores familiares, o comportamento sexual, passando pelos padrões estéticos e éticos. As minissaias e os biquínis expunham com ousadia os corpos femininos. A descoberta da pílula anticoncepcional liberava as práticas sexuais das restrições sustentadas pela religiosidade cristã. No lugar dos ternos e gravatas, do cabelo curto e dos valores da sociedade de consumo, os jovens usavam jeans, cabelos longos e acreditavam em sociedades livres e igualitárias. Ouviam rock’n roll. Praticavam sexo livre e faziam política.
O símbolo da época era Ernesto Che Guevara, guerrilheiro de origem argentina, braço direito de Fidel Castro, morto em 1967, cultuado por seus ideais de solidariedade entre os povos contra a opressão. Nos Estados Unidos houve a ascensão do movimento negro Black Power, surgiram as ações dos índios e dos presidiários, das feministas e dos homossexuais. Apareceram, primeiro na Filadélfia e depois em todo o país, os hippies, os quais, numa versão moderna do anarquismo, misturavam Marx com Freud para explicar a importância da liberdade individual. Em 1968 os estudantes tomaram as ruas de Paris, Milão, Praga, Varsóvia, Berlim, Washington, Amsterdã. “Queremos o poder, e queremos agora! É proibido proibir! A imaginação no poder! Não mude de emprego, mude o emprego da sua vida!”
Inspirada pelo pensamento de intelectuais franceses contemporâneos, a revolta dos estudantes franceses ganhou o apoio de artistas locais. Os cineastas François Truffaut e Jean Luc Godard incentivaram o boicote ao Festival de Cinema de Cannes naquele ano. Eles protestavam contra o ministro da cultura da França, André Malraux, que pedira a demissão de Henri Langlois, um dos fundadores da Cinemateca Francesa, e ameaçava cortar verbas da instituição. Além de inspirarem músicas dos Beatles (Revolution) e dos Rolling Stones (Street fighting man).
Em meio à efervecência do período pré-68, o cinema novo colocou-se como a vanguarda estética e ideológica da produção cultural: pensando o cinema enquanto linguagem e forma de conhecimento da realidade brasileira e equacionando politicamente o campo das relações econômicas que determinam a produção cinematográfica, o movimento pôde definir um projeto político-cultural avançado. O maior representante do cinema novo brasileiro foi, sem dúvida, o diretor Glauber Rocha.
Os conflitos, o clima tenso, a angustia, todas essas emoções refletiam nas músicas e nas artes em geral. No festival de Música de 1968, a canção “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, transformou-se em hino. A peça “Roda Viva” de Chico Buarque, com direção de Zé Celso Martinez Corrêa, teve grande êxito nos palcos. Atores do elenco foram espancados pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas). A atriz Marília Pêra, por exemplo, foi vítima de um corredor polonês. Um dos slogans de maio de 68 foi eternizado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em “É proibido proibir”. Apresentada no Festival Internacional da Canção da Rede Globo naquele ano, a canção foi vaiada pelo público provocando a famosa reação irritada de Caetano: “Mas isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) vocês não estão entendendo nada!”.
Tanto Caetano e Gil, quanto Glauber Rocha e Zé Celso fizeram parte de um movimento cultural brasileiro chamado “Tropicalismo”. O Tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais, sem deixar preocupações políticas e comportamentais de lado. O jornalista Nelson Motta ao publicar no jornal “Última Hora” o artigo intitulado “A cruzada tropicalista”, utiliza pela primeira vez o termo para definir esse gênero/movimento. No mesmo ano foi lançado o disco “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, obra coletiva de Gil, Caetano, Gal, Tom Zé e Os Mutantes. É considerado quase como um manifesto do grupo.
Ao longo de 1968, nos Estados Unidos, a opinião pública passou a rejeitar a guerra do Vietnã após ficar chocada com as imagens que a TV mostrava. A morte de Martin Luther King também gerou revoltas das comunidades negras. No Brasil, os militares, que reprimiram com prisões a realização do congresso de estudantes da UNE em Ibiúna, continuariam no poder por mais 17 anos. O ano que começou com a morte do estudante Edson Luís no restaurante Calabouço, em São Paulo, terminou com o AI-5, que dava plenos poderes ao presidente.
Para comemorar os 40 anos dessa onda de mudanças responsáveis por muitas de nossas conquistas atuais, o jornalista Zuenir Ventura reeditou o livro “1968 – O ano que não terminou” e lançou “1968 – O que fizemos de nós?”, que propõe uma busca das rupturas e continuidades entre a geração de 68 e os jovens de hoje. “Não há hoje geração. Há tribos, galeras, turmas. Quis corrigir um pouco essa má vontade que temos com a nova geração. Também era assim em 68, mas os jovens eram muito agressivos e respondiam: não confiem em ninguém com mais de 30 anos”, diz Ventura.
Hoje, os projetos coletivos, principalmente os políticos não fascinam mais. O ser humano agora luta contra si próprio. Lideres destas revoluções enfrentam acusações de corrupção, como o ex-presidente da UNE José Direceu e paises europeus como a França hoje apóiam políticas duras contra a entrada de imigrantes. Porém, ocupações de reitoria, corrida a presidência de Barak Obama e protestos pró-direitos humanos em todo o mundo contra a realização da Olimpíada de Pequim mostram que o espírito de 1968 ainda existe dentro de nós.

É isso aí pessoal. Qualquer dúvida ou sugestão: rafaeldtupinamba@gmail.com
Beijos!!!


Roda Viva

2001 - Uma odisséia no Espaço


Hair

Famosa foto da menina Kim Phuc fugindo de um bombardeio de Napalm no Vietnã


Tropicália ou Pannis et Circensis







domingo, 4 de janeiro de 2009

O SHOW DA MINHA VIDA...E DA VIDA DE MUITOS!!!

15 de dezembro. A estação de metrô do Maracanã lotada e uma fila gigantesca formada nos portões do estádio há oito dias, formam um cenário que só era visto em um Fla-Flu. Um verdadeiro mercado informal com todos os produtos imaginados sobre a grande diva da música pop, aumentava ainda mais o espírito de euforia que rodeava aquela data. Já imaginam a que evento estou me referindo? Sim, a turnê “Sticky & Sweet” de Madonna, a qual tive a imensa sorte de poder ter assistido. Quem não pode ir, um único alerta: não duvide da capacidade da maior performer feminina de todos os tempos.
Casais distintos e com mais de 50 anos se unem aos tipos mais exóticos. Covers de Madonna são vistas aos montes e a animação de uma juventude que cresceu acompanhando as várias metamorfoses da estrela dão o tom do recinto. Um fã que veio de Manaus só para assistir aos dois shows realizados no Rio de Janeiro comenta comigo: “Show da Madonna é assim: começa antes dela entrar no palco”.
As luzes se apagam com quase duas horas de atraso, dando a deixa para um coral de mais de 50 mil pessoas gritando: “Piranha!” ou “Queremos ver a Flora!”. O fato originou uma bronca engraçada da rainha aos seus súditos: “Não brinquem assim comigo. Se sou piranha ótimo, melhor pra mim!”. Nos telões, imagens que nos remetem a uma loja de doces junto aos primeiros acordes de “Candy Shop”, música do último disco da cantora e que abre a turnê batizada de Sticky & Sweet (grudenta e doce).
Os gritos aumentam quando Madonna aparece escoltada por um time de bailarinos nota 10 que somem e aparecem do chão ao longo das duas horas seguintes. Uma passarela no meio do público leva a trupe para um palco redondo e bem menor, mais intimista, enquanto, lá no fundo, a banda dá o suporte musical para a dança, sua voz e seus figurinos. São duas cantoras de apoio, um DJ, baixo, dois teclados e um guitarrista. Em algumas musicas, Madonna arranha notas em sua guitarra, mais um motivo para nosso delírio. A essa altura estávamos tendo uma experiência quase religiosa, ao som de “Vogue”, clássico de 1990. A cantora então desaparece e entra uma versão instrumental de “Die Another Day”, trilha da aventura de 007 de 2002.
Madonna volta e pula corda, canta em cima de um piano, dança, dando mais amostras de sua excelente forma física. Em um momento nostalgia canta “Bordeline” em uma versão inédita, com uma batida mais rock’n roll e ”Into the Groove”, grandes sucessos dos anos 80. No segundo ato do show, digamos assim, um sarau cigano é montado no palco, onde são executadas “La Isla Bonita” e “Spanish Lesson”. Depois entra em um trecho mais consciente, passando para o público mensagens sobre ecologia, solidariedade e respeito às diferenças. Um momento, sem sobra de dúvidas, dos mais emocionantes do show, levando o público a profundas reflexões sobre essa fase de crise mundial e superaquecimento global que atravessamos. No telão imagens de Madre Teresa, Gandhi, Martin Luther King, Princesa Diana e claro Barack Obama. Tudo isso, como uma preparação para a execução do hit do momento: “4 Minutes”. Um dueto animado com Justin Timberlake, mas com uma mensagem séria: “We only got 4 minutes to save th world” (Nós temos 4 minutos para salvar o mundo). Com a óbvia ausência de Justin, Madonna interage com quatro mini-telões com a altura de um homem, com a imagem de Justin projetada. Mais uma prova do nível tecnológico do show.
A seqüência do bis é matadora, com “Music”, “Like a Prayer” (único single da cantora cantado em todos os seus shows), “Ray of Light” e “Hung Up”. O show se encerra ao som de “Give It to Me”, com mais uma participação virtual, agora de Pharrell. O palco se esvazia e o telão sustenta: “Game Over”, o jogo acabou. Ainda assim, o DJ solta mais um clássico da carreira da cantora: “Holliday”. Enquanto alguns deixavam o recinto satisfeitos, eu ainda dançava freneticamente em êxtase. Com as luzes já acesas, não à toa, vem cabeça uma estrofe de “Music”, hit recente da rainha que acabara de provar que sua majestade não está em risco. Nela, declara que “da burguesia aos rebeldes, a música une as pessoas”. Alguém duvida?

Ana Silvério, Marina Tourinho, Tahíba Melina (mesmo engessada) e Eu....só no aquecimento!

Coluna 08



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Aí vai uma do dia 18/05/2008. Boa leitura!!!!


As minhas duas últimas idas ao cinema, realmente, valeram a pena.
Há algumas semanas atrás assisti ao filme “Juno”. Um exemplo de como despretensão e simplicidade podem fazer um bom filme. Vencedor do Oscar de melhor roteiro original, "Juno" tornou-se a sensação do primeiro trimestre de 2008. Todos passaram a falar em "Juno", um filme independente que custou apenas 7,5 milhões de dólares e arrecadou mais de 110 milhões só nos Estados Unidos! Um grande feito de bilheteria. A comédia ainda concorreu a três categorias no Oscar (filme, direção e atriz, para Ellen Page).
O filme conta a história de uma menina de 16, Juno (Ellen Page), que engravida do namorado Bleeker (Michael Cera) após a primeira transa dos dois. Na maioria dos filmes que tratam dessa temática, tudo é visto sempre com muito tabus, de uma forma muito complicada e o debate sobre aborto trás sempre fogo às discussões. “Juno” ao construir uma protagonista corajosa e decidida, que sabe que não adianta fechar os olhos, passa longe da complicação. Depois de desistir do aborto e contar com a compreensão do pai, a garota resolve entregar o bebê para pais que não podem ter filhos. Eis que ela encontra nos classificados do jornal o aparentemente perfeito casal Vanessa (Jennifer Garner) e Mark (Jason Bateman).
A história é recortada por uma trilha sonora extremamente delicada. É a cargo da música que fica o papel de dar um “colorido” ao relacionamento de Juno e Marc, um compositor apaixonado por rock. É graças à música também que quase não contemos o choro nas cenas de Juno e Bleeker, costurando os diálogos de uma forma tão emotiva, mas sem cair no apelativo. A trilha sonora é composta basicamente de músicas folk americanas e de doces canções da banda escocesa “Belle e Sebastian” (divinos). Se você é um apaixonado por cinema e música como eu e principalmente pelo casamento dos dois, vai querer desligar o aparelho de DVD e baixar praticamente toda a trilha.
O roteiro de Diablo Cody (que abalou o Oscar com um visual pra lá de ousado) é certeiro e com diálogos precisos, que ganham ainda mais força com a atuação segura de Ellen Page. O amadurecimento que a personagem é obrigada a passar depois que engravida e a maneira como passa a ver o mundo dos adultos foi tecido sem julgamentos. Muito desse mérito também se deve ao trabalho do diretor Jason Reitman, que mostrou em outro ótimo filme, “Obrigado por Fumar”, que sabe como ninguém dirigir comédias cínicas, como ambos os filmes. A situação é encarada com cinismo, com humor inteligente e sarcástico que dão base às situações do filme. Mas ao mesmo tempo, existe uma sinceridade única na construção dos personagens, sempre muito verossímeis e honestos.
Outra produção que merece uma atenção maior do público é o mais novo filme de Woody Allen “O sonho de Cassandra”. Nesse filme que trás os talentosos Ewan Mcgregor e Collin Farrell, Woody vai mais fundo nos questionamentos dos relacionamentos humanos. Se antes ele se concentrava mais em relacionamentos amorosos, agora ele amplia mais o olhar de sua lupa. O thriller te prende do início ao fim levando a um final inesperado. Assim como em “Match Point” Woody Allen retorna ao assunto que mais o agrada: o crime com seu respectivo castigo. Só que agora dá à tragédia sua real descendência grega e o peso do hybris (quando um simples mortal ultrapassa a ordem social e as vontades dos deuses levando-o a queda). Outras ligações com a tragédia grega aparecem, por exemplo, quando as mortes não são mostradas ou quando o final é contado por uma espécie de corifeu. O próprio gráfico do roteiro relembra a estrutura dramática de peças de Eurípedes, Ésquilo, Sófocles, etc.
Tudo ocorre em Londres, onde os irmãos Ian (Ewan McGregor) e Terry (Collin Farrell) vivem uma vida de falsas aparências. Ian usa belas roupas, carros emprestados e muito de seu charme britânico para ocultar uma situação financeira periclitante. Terry tem a capacidade de ganhar fortunas em jogos de azar, para perdê-las, em dobro, logo em seguida. É nesta situação de total instabilidade que surge o tio Howard (Tom Wilkinson), o herói da família, o único que deu certo e ficou milionário A presença do querido milionário vindo da América poderia ser a solução de todos os problemas dos sobrinhos. Mas é exatamente aí que as maiores tragédias começam a se desenhar. Vale lembrar: na mitologia, Cassandra é a portadora de más notícias.
E não é só na tragédia grega que Woody Allen foi beber para construir a trama de “O sonho de Cassandra”. Lá está Dostoievski (Crime e Castigo), a lenda de Caim e Abel e até algumas referências a seus próprios filmes. Tem quem diga que há menos humor em o sonho... Mas eu nunca o achei tão ácido, como na seqüência em que os irmãos tentam sem sucesso assassinar um homem em sua própria casa e incidentes matam a platéia de rir... em plena tragédia!
Só gênios como Woody Allen conseguem construir tão bem essa teia de contradições fazendo com que você seja levado pela narrativa e nem perceba. É assim quando assistimos a filmes de Fellini, Chaplin, Orson Welles, Hitchcock, Trouffaut e principalmente Bergman, principal influência assumida de Allen. Num primeiro momento você pode não entender o que o diretor de “Fanny e Alexander” tem em comum com a comédia de costumes de Woody Allen. Mas quem foi tão fundo na discussão vida X destino, dialética amplamente discutida nos últimos filmes de Allen, quanto Bergman? Sobre o próprio, Allen já disse: “Sobretudo há Ingmar Bergman, que, tudo considerado, é provavelmente o maior artista do cinema desde a invenção da câmera”. O filme “Interiores” de 1978, dirigido por Woody Allen é sem dúvida a influência mais nítida de Bergman em suas obras.
A trilha sonora também é um ponto alto em “O sonho de Cassandra”. As músicas de Philip Glass compostas especialmente para o filme, parecem que regem o ritmo das cenas e do nosso batimento cardíaco. No fim da sessão, quem conhece a filmografia de Woody Allen pode achar que ele se repetiu. O que não é problema nenhum para um filme de Woody Allen. Afinal, um autor tem direito de plagiar a si mesmo.
Infelizmente ambos os filmes praticamente já saíram das salas de cinema e passaram completamente despercebidos pelas salas do Montes Claros Shopping Center que prioriza blockbuster. Mas logo no início do segundo semestre já devem estar na locadoras e vale a pena pegar um balde pipoca e curtir esses dois grandes filmes.