Pois é gente, enquanto vocês votam nos Melhores do Ano vou continuar a postar antigas colunas por aqui.
Aí vai uma do dia 25/05/2008. Boa leitura!!!!
Aí vai uma do dia 25/05/2008. Boa leitura!!!!
1968 que ano!
Uma palavra definia o Brasil e o mundo em 1968: psicodelia. Esse termo passou a ter muitos significados naqueles anos turbulentos que culminaram em 1968. Possuídos por um espírito contestador nunca visto, os jovens colocaram os valores tradicionais em questão, demolindo normas e padrões que pareciam inquestionáveis. A contestação atingia o sistema educacional, os valores familiares, o comportamento sexual, passando pelos padrões estéticos e éticos. As minissaias e os biquínis expunham com ousadia os corpos femininos. A descoberta da pílula anticoncepcional liberava as práticas sexuais das restrições sustentadas pela religiosidade cristã. No lugar dos ternos e gravatas, do cabelo curto e dos valores da sociedade de consumo, os jovens usavam jeans, cabelos longos e acreditavam em sociedades livres e igualitárias. Ouviam rock’n roll. Praticavam sexo livre e faziam política.
O símbolo da época era Ernesto Che Guevara, guerrilheiro de origem argentina, braço direito de Fidel Castro, morto em 1967, cultuado por seus ideais de solidariedade entre os povos contra a opressão. Nos Estados Unidos houve a ascensão do movimento negro Black Power, surgiram as ações dos índios e dos presidiários, das feministas e dos homossexuais. Apareceram, primeiro na Filadélfia e depois em todo o país, os hippies, os quais, numa versão moderna do anarquismo, misturavam Marx com Freud para explicar a importância da liberdade individual. Em 1968 os estudantes tomaram as ruas de Paris, Milão, Praga, Varsóvia, Berlim, Washington, Amsterdã. “Queremos o poder, e queremos agora! É proibido proibir! A imaginação no poder! Não mude de emprego, mude o emprego da sua vida!”
Inspirada pelo pensamento de intelectuais franceses contemporâneos, a revolta dos estudantes franceses ganhou o apoio de artistas locais. Os cineastas François Truffaut e Jean Luc Godard incentivaram o boicote ao Festival de Cinema de Cannes naquele ano. Eles protestavam contra o ministro da cultura da França, André Malraux, que pedira a demissão de Henri Langlois, um dos fundadores da Cinemateca Francesa, e ameaçava cortar verbas da instituição. Além de inspirarem músicas dos Beatles (Revolution) e dos Rolling Stones (Street fighting man).
Em meio à efervecência do período pré-68, o cinema novo colocou-se como a vanguarda estética e ideológica da produção cultural: pensando o cinema enquanto linguagem e forma de conhecimento da realidade brasileira e equacionando politicamente o campo das relações econômicas que determinam a produção cinematográfica, o movimento pôde definir um projeto político-cultural avançado. O maior representante do cinema novo brasileiro foi, sem dúvida, o diretor Glauber Rocha.
Os conflitos, o clima tenso, a angustia, todas essas emoções refletiam nas músicas e nas artes em geral. No festival de Música de 1968, a canção “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, transformou-se em hino. A peça “Roda Viva” de Chico Buarque, com direção de Zé Celso Martinez Corrêa, teve grande êxito nos palcos. Atores do elenco foram espancados pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas). A atriz Marília Pêra, por exemplo, foi vítima de um corredor polonês. Um dos slogans de maio de 68 foi eternizado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em “É proibido proibir”. Apresentada no Festival Internacional da Canção da Rede Globo naquele ano, a canção foi vaiada pelo público provocando a famosa reação irritada de Caetano: “Mas isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) vocês não estão entendendo nada!”.
Tanto Caetano e Gil, quanto Glauber Rocha e Zé Celso fizeram parte de um movimento cultural brasileiro chamado “Tropicalismo”. O Tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais, sem deixar preocupações políticas e comportamentais de lado. O jornalista Nelson Motta ao publicar no jornal “Última Hora” o artigo intitulado “A cruzada tropicalista”, utiliza pela primeira vez o termo para definir esse gênero/movimento. No mesmo ano foi lançado o disco “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, obra coletiva de Gil, Caetano, Gal, Tom Zé e Os Mutantes. É considerado quase como um manifesto do grupo.
Ao longo de 1968, nos Estados Unidos, a opinião pública passou a rejeitar a guerra do Vietnã após ficar chocada com as imagens que a TV mostrava. A morte de Martin Luther King também gerou revoltas das comunidades negras. No Brasil, os militares, que reprimiram com prisões a realização do congresso de estudantes da UNE em Ibiúna, continuariam no poder por mais 17 anos. O ano que começou com a morte do estudante Edson Luís no restaurante Calabouço, em São Paulo, terminou com o AI-5, que dava plenos poderes ao presidente.
Para comemorar os 40 anos dessa onda de mudanças responsáveis por muitas de nossas conquistas atuais, o jornalista Zuenir Ventura reeditou o livro “1968 – O ano que não terminou” e lançou “1968 – O que fizemos de nós?”, que propõe uma busca das rupturas e continuidades entre a geração de 68 e os jovens de hoje. “Não há hoje geração. Há tribos, galeras, turmas. Quis corrigir um pouco essa má vontade que temos com a nova geração. Também era assim em 68, mas os jovens eram muito agressivos e respondiam: não confiem em ninguém com mais de 30 anos”, diz Ventura.
Hoje, os projetos coletivos, principalmente os políticos não fascinam mais. O ser humano agora luta contra si próprio. Lideres destas revoluções enfrentam acusações de corrupção, como o ex-presidente da UNE José Direceu e paises europeus como a França hoje apóiam políticas duras contra a entrada de imigrantes. Porém, ocupações de reitoria, corrida a presidência de Barak Obama e protestos pró-direitos humanos em todo o mundo contra a realização da Olimpíada de Pequim mostram que o espírito de 1968 ainda existe dentro de nós.
É isso aí pessoal. Qualquer dúvida ou sugestão: rafaeldtupinamba@gmail.com
Beijos!!!
Uma palavra definia o Brasil e o mundo em 1968: psicodelia. Esse termo passou a ter muitos significados naqueles anos turbulentos que culminaram em 1968. Possuídos por um espírito contestador nunca visto, os jovens colocaram os valores tradicionais em questão, demolindo normas e padrões que pareciam inquestionáveis. A contestação atingia o sistema educacional, os valores familiares, o comportamento sexual, passando pelos padrões estéticos e éticos. As minissaias e os biquínis expunham com ousadia os corpos femininos. A descoberta da pílula anticoncepcional liberava as práticas sexuais das restrições sustentadas pela religiosidade cristã. No lugar dos ternos e gravatas, do cabelo curto e dos valores da sociedade de consumo, os jovens usavam jeans, cabelos longos e acreditavam em sociedades livres e igualitárias. Ouviam rock’n roll. Praticavam sexo livre e faziam política.
O símbolo da época era Ernesto Che Guevara, guerrilheiro de origem argentina, braço direito de Fidel Castro, morto em 1967, cultuado por seus ideais de solidariedade entre os povos contra a opressão. Nos Estados Unidos houve a ascensão do movimento negro Black Power, surgiram as ações dos índios e dos presidiários, das feministas e dos homossexuais. Apareceram, primeiro na Filadélfia e depois em todo o país, os hippies, os quais, numa versão moderna do anarquismo, misturavam Marx com Freud para explicar a importância da liberdade individual. Em 1968 os estudantes tomaram as ruas de Paris, Milão, Praga, Varsóvia, Berlim, Washington, Amsterdã. “Queremos o poder, e queremos agora! É proibido proibir! A imaginação no poder! Não mude de emprego, mude o emprego da sua vida!”
Inspirada pelo pensamento de intelectuais franceses contemporâneos, a revolta dos estudantes franceses ganhou o apoio de artistas locais. Os cineastas François Truffaut e Jean Luc Godard incentivaram o boicote ao Festival de Cinema de Cannes naquele ano. Eles protestavam contra o ministro da cultura da França, André Malraux, que pedira a demissão de Henri Langlois, um dos fundadores da Cinemateca Francesa, e ameaçava cortar verbas da instituição. Além de inspirarem músicas dos Beatles (Revolution) e dos Rolling Stones (Street fighting man).
Em meio à efervecência do período pré-68, o cinema novo colocou-se como a vanguarda estética e ideológica da produção cultural: pensando o cinema enquanto linguagem e forma de conhecimento da realidade brasileira e equacionando politicamente o campo das relações econômicas que determinam a produção cinematográfica, o movimento pôde definir um projeto político-cultural avançado. O maior representante do cinema novo brasileiro foi, sem dúvida, o diretor Glauber Rocha.
Os conflitos, o clima tenso, a angustia, todas essas emoções refletiam nas músicas e nas artes em geral. No festival de Música de 1968, a canção “Pra não dizer que não falei das flores” de Geraldo Vandré, transformou-se em hino. A peça “Roda Viva” de Chico Buarque, com direção de Zé Celso Martinez Corrêa, teve grande êxito nos palcos. Atores do elenco foram espancados pelo CCC (Comando de Caça aos Comunistas). A atriz Marília Pêra, por exemplo, foi vítima de um corredor polonês. Um dos slogans de maio de 68 foi eternizado por Caetano Veloso e Gilberto Gil em “É proibido proibir”. Apresentada no Festival Internacional da Canção da Rede Globo naquele ano, a canção foi vaiada pelo público provocando a famosa reação irritada de Caetano: “Mas isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? (...) vocês não estão entendendo nada!”.
Tanto Caetano e Gil, quanto Glauber Rocha e Zé Celso fizeram parte de um movimento cultural brasileiro chamado “Tropicalismo”. O Tropicalismo foi um movimento cultural brasileiro que mesclou manifestações tradicionais da cultura brasileira a inovações estéticas radicais, sem deixar preocupações políticas e comportamentais de lado. O jornalista Nelson Motta ao publicar no jornal “Última Hora” o artigo intitulado “A cruzada tropicalista”, utiliza pela primeira vez o termo para definir esse gênero/movimento. No mesmo ano foi lançado o disco “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, obra coletiva de Gil, Caetano, Gal, Tom Zé e Os Mutantes. É considerado quase como um manifesto do grupo.
Ao longo de 1968, nos Estados Unidos, a opinião pública passou a rejeitar a guerra do Vietnã após ficar chocada com as imagens que a TV mostrava. A morte de Martin Luther King também gerou revoltas das comunidades negras. No Brasil, os militares, que reprimiram com prisões a realização do congresso de estudantes da UNE em Ibiúna, continuariam no poder por mais 17 anos. O ano que começou com a morte do estudante Edson Luís no restaurante Calabouço, em São Paulo, terminou com o AI-5, que dava plenos poderes ao presidente.
Para comemorar os 40 anos dessa onda de mudanças responsáveis por muitas de nossas conquistas atuais, o jornalista Zuenir Ventura reeditou o livro “1968 – O ano que não terminou” e lançou “1968 – O que fizemos de nós?”, que propõe uma busca das rupturas e continuidades entre a geração de 68 e os jovens de hoje. “Não há hoje geração. Há tribos, galeras, turmas. Quis corrigir um pouco essa má vontade que temos com a nova geração. Também era assim em 68, mas os jovens eram muito agressivos e respondiam: não confiem em ninguém com mais de 30 anos”, diz Ventura.
Hoje, os projetos coletivos, principalmente os políticos não fascinam mais. O ser humano agora luta contra si próprio. Lideres destas revoluções enfrentam acusações de corrupção, como o ex-presidente da UNE José Direceu e paises europeus como a França hoje apóiam políticas duras contra a entrada de imigrantes. Porém, ocupações de reitoria, corrida a presidência de Barak Obama e protestos pró-direitos humanos em todo o mundo contra a realização da Olimpíada de Pequim mostram que o espírito de 1968 ainda existe dentro de nós.
É isso aí pessoal. Qualquer dúvida ou sugestão: rafaeldtupinamba@gmail.com
Beijos!!!
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